A Música Popular Brasileira se individualizou por volta da segunda metade do século XIX, e o final desse século testemunhou a presença da tradição rítmica africana em um cenário urbano. Povos humildes da serra carioca criaram seus próprios instrumentos musicais, de percussão em geral, constituídos por frigideiras, latas cheias de areia ou pedras, cuícas, tamborins e atabaques, estes últimos feitos de pele de gato. A colonização portuguesa trouxe consigo elementos da cultura europeia, incluindo formas musicais e instrumentos orquestrais. Músicos brasileiros que já tocavam o repertório europeu em pianos, flautas, violinos e violões espanhóis transpuseram naturalmente os ritmos da percussão para seus instrumentos. Por volta de 1875, o título genérico de "choro" já era utilizado para designar qualquer pequena orquestra com instrumento solista que executasse música popular, especialmente ao ar livre. Alfredo da Rocha Vianna Jr., apelidado de "Pixinguinha", teve papel de destaque na definição do chamado desenvolvimento regional do choro, como são chamados os pequenos grupos típicos desse gênero. Flautista virtuoso desde tenra idade, compôs sua primeira música aos 13 anos, o choro "Lata de Leite", dedicado aos amigos com quem pregava peças como roubar latas de leite na frente das casas vizinhas. A partir dos pequenos grupos camerísticos então comuns e que utilizavam flauta, violão e cavaquinho (ukelele), Pixinguinha modificou sua estrutura e criou o que seria seu grupo fundamental, Os Oito Batutas. Com esse conjunto revolucionário, introduziu no Brasil a instrumentação baseada no jazz, com trompete, trombone, saxofone e banjo, além da variada percussão brasileira. Nascido em Piedade, subúrbio carioca, em 23 de abril de 1898, dia de São Jorge, (também conhecido como dia de Ogum), foi um reconhecido mestre de flauta aos 22 anos, com vários discos. Era setembro de 1920. Depois de passarem por São Paulo e Minas, Os Oito Batutas foram convidados para trabalhar no cabaré Assírio do Theatro Municipal, acompanhar as apresentações de Duque e Gabi, um casal de bailarinos que se tornou famoso na Europa dançando maxixe (gênero brasileiro derivado do lundu e precursor direto do choro). Por sugestão de Duque, o milionário Eduardo Guinle, grande admirador dos Batutas, resolveu patrocinar uma turnê do grupo pela Europa. Chegaram a Paris no inverno de 1922 para tocar no cabaré Scheherazade, onde Duque já havia dançado com sucesso. Com a preocupação principal de simplesmente fazer seu som ser ouvido nas amplas salas parisienses (que eram bem maiores que as cariocas), Pixinguinha começou a pensar em um instrumento com sonoridade mais potente. Por conta disso, comprou um sax soprano Selmer, introduzindo esse instrumento no gênero do jazz brasileiro. Além dessa transformação radical na instrumentação tradicional do choro, Os Oito Batutas foi o primeiro grupo a empregar (além da tradicional flauta, violão e cavaquinho) instrumentos como o reco-reco, o pandeiro e o ganzá. A turnê da temporada, inicialmente planejada para durar um mês, foi estendida para seis meses. Paris enchia o cabaré, delirando com os ritmos alucinatórios dos brasileiros. Com elogios de público e crítica, Pixinguinha foi homenageado por músicos famosos, incluindo Harold de Bozzi, flautista vencedor do primeiro prêmio dos Conservatórios de Paris
Choro Brasileiro
Locução por:
Zé Baretina do Ororubá
Este programa não está agendado para nenhum horário