Lançamento do livro “Povo Xambá resiste: 80 anos da repressão aos terreiros em Pernambuco”
A resistência do Povo Xambá, da repressão aos dias atuais
A jornalista e produtora cultural, Marileide Alves, lança, nesta quinta-feira (dia 13 de dezembro), pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), o livro “Povo Xambá resiste: 80 anos da repressão aos terreiros em Pernambuco”. O evento acontecerá, às 16h, após o Toque de Louvação, no Terreiro Xambá, no Quilombo do Portão do Gelo – Nação Xambá, na periferia da cidade de Olinda. Após o lançamento, os grupos Bongar e Estesia apresentam o show “Na Casa da Mãe: Concerto Para Yansã”.
O livro conta, por meio de relatos, toda a resistência do povo Xambá em manter vivo o culto Xambá, desde o fechamento do Terreiro em maio de 1938 até os dias atuais. Embora trate do período específico do fechamento da Casa, o livro traz relatos também da repressão vivida pelo povo de terreiro mesmo antes da instalação do Governo Getúlio Vargas, no Brasil. A história é toda contada por parentes de Maria Oyá, a fundadora do Terreiro Xambá, de Mãe Biu, sua sucessora, e amigos e amigas de santo que também tiveram parentes que sofreram com a repressão ao povo de terreiro.
Por se tratar de um período em que não existem documentos oficiais sobre os fatos ocorridos, entre 1938 e 1945, a autora precisou realizar diversas entrevistas com pessoas que ouviram relatos de seus parentes sobre a truculenta ação do Governo, na época, e os artifícios utilizados pelo povo de terreiro para manter viva suas tradições e poder realizar seu culto aos orixás. “Neste ano completam-se 80 anos do fechamento do Terreiro Xambá. E a data não pode ser esquecida, porque nunca houve reparação do Governo brasileiro com o povo de terreiro pelos danos sofridos, não só durante o período da repressão aos terreiros, mas também no período da escravatura. Então, é uma data para continuarmos cobrando políticas públicas de reparação ao povo negro”, afirma Marileide. Há quase 15 anos dentro da comunidade, Marileide relata no livro ações de resistência do povo Xambá das quais a autora teve participação ativa e conquistas que ajudou a comunidade a obter.
Segundo a autora, o lançamento no dia 13 é bastante simbólico para o povo Xambá. “Nesse dia acontece, das 12h às 13h30, o Toque de Louvação, de coroação ao Orixá Yansã. Quem vem ao terreiro nesse dia entra completamente numa atmosfera que remete a um estado de transe, de memória, de resistência, ao participar de um ritual que tem um histórico de mais de 80 anos, com elementos simbólicos bem africanos, quando os orixás estão em terra, com suas indumentárias, suas danças”, relata. A programação do dia começa com a Alvorada, às 5h, com fogos e cantos. Em seguida, às 11h30, haverá o plantio de uma gameleira no Terreiro e o lançamento e hasteamento da Bandeira do Quilombo do Portão do Gelo – Nação Xambá. O Toque de Louvação começa às 12h e vai até 13h30, com almoço servido para todos os participantes e visitantes. O lançamento do livro será das 16h às 20h, seguido do show “Na Casa da Mãe: Concerto Para Yansã”.
RELEASE DO SHOW
O show “Na Casa da Mãe: Concerto Para Yansã é um espetáculo composto por nove músicas (número que na mitologia africana representa o orixá Yansã) entre cantos tradicionais yorubanos e composições de Guitinho da Xambá, criadas durante um processo de resguardo espiritual vivido pelo músico dentro do Terreiro Xambá, entre os dias 1 e 7 de agosto deste ano. Os cantos e composições receberam arranjos percussivos, eletrônicos e harmônicos do Grupo Bongar (Guitinho da Xambá, Beto da Xambá, Memé da Xambá, Thúlio da Xambá e Nino da Xambá) e arranjos harmônicos e eletrônicos do Grupo Estesia (Carlos Filho, Cleison Ramos, Miguel Mendes e Tomás Brandão), convidado por Guitinho para compor essa paisagem sonora e ser parte integrante deste novo trabalho de parceria que o Bongar inicia. "Ficamos muito felizes com o convite feito por Guitinho. Somos fãs do Bongar e já havíamos trabalhado juntos este ano numa apresentação Estesia. E foi uma experiência incrível que deixou aquele gostinho de quero mais, de fazer um show inteiro com o Bongar. Agora isso vai acontecer. A música eletrônica e a música de terreiro têm em comum a ideia da repetição, uma repetição que nos conduz a estados de consciência alterados, tanto o público quanto nós músicos. E também é muito improvisada, ao ponto que cada vez que tocamos uma música é uma experiência completamente diferente da outra", comenta Carlos Filho do Estesia.
O show é carregado de simbolismo poético, percussivo, iluminação e sons eletrônicos que levam o público ao espaço sonoro-mítico e ao campo do transe da modernidade religiosa, realizado pela força da música de terreiro e feita nos laboratórios das salas computadorizadas. O show é inédito e acontecerá na frente do Terreiro Xambá, tendo a fachada do mesmo como cenário.
Guitinho conta como ocorreu a criação das músicas:
“No final de julho fiquei internado cinco dias, no hospital Agamenon Magalhães, com complicações cardíacas e taxas alteradas. Durantes esses dias, vi e vivi coisas que nunca imaginei, desde a precariedade do sistema hospitalar à solidariedade dos pacientes que lá estão em diversos estados de vida e funções. Também vi pessoas morrerem e outras com muita certeza de que a vida seguiria. Saí, numa sexta-feira, direto para o ritual do Arroz de Orixalá, no Terreiro, para agradecer pela minha alta hospitalar. Porém, confesso, que não sou muito regrado quando se trata de cuidar da saúde e não dei continuidade às recomendações médicas. Por conta disso, meu Orixá Ogum ordenou que eu ficasse sete dias dentro do terreiro, sem comer comida com sal e açúcar, e sem usar computador e celular. Embora já tivesse passado pelo ritual de yawô, onde ficamos 35 dias recluso no terreiro, nunca imaginei que voltaria a viver algo parecido. Assim fui cumprir essa ordem. Passados dois dias já estava bem agoniado e entediado. Daí pedi para Mari (minha esposa) trazer o meu violão, que estava querendo compor algumas músicas. Então, direcionei todas as inspirações para a dona da Casa, Oyá, que estava me acolhendo e, junto com o meu pai Ogum e os demais orixás, tratando da minha saúde. Então, fiz uma promessa que se eu melhorasse montaria um show para Yansã. Saí do terreiro muito bem, com as músicas feitas durante as madrugadas no terreiro. E para montar esse show convidei meus primos do Bongar e o grupo Estesia para construirmos, em conjunto, os arranjos das músicas”.
Mais informações:
81 99927.6258 (Marileide Alves e Guitinho da Xambá)
81 98716.3305 Tomás Brandão (Estesia)
